quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Brasil Ride 2014

Demorou muito, mas finalmente saiu o post sobre o Brasil Ride!
E pra não perder tempo, vamos direto ao assunto.


Pra resumir toda a prova em uma palavra só, eu diria que o Brasil Ride é uma competição desumana. Muito desumana. Você vai ao inverno e volta várias vezes durante todas as etapas.
As distâncias são muito longas, com subidas sequenciais, terreno técnico... Resumindo: é muita loucura participar. Como o Locutor Maquininha diria, "dói, dói, dói tuuuuuuudo nessa hora! Mas é bom demais!"

Maquininha: "paaaaaaaaarabééééééns!"

Na verdade, o Locutor Maquininha foi um caso à parte. Escutamos ele no 1º dia gritando no microfone, mas concluímos que era só durante o agito da largada e chegada dos profissionais. Mas não. O danado grita durante o evento inteiro! Do momento em que o galo canta até o fim do jantar. E tudo isso, "Em grande estilo! Que bacana! Que demais!" =D

[ Stage 1 ]
O prólogo é o dia mais curto de todos, com apenas 20km. Mas apesar da curta distância, ele contém todas as partes mais técnicas da ultramaratona.
Optamos por não forçar nesse dia, para não corrermos nenhum risco. Só que isso foi a teoria. Logo que foi dada a largada, atacamos e nos mantivemos assim por toda a primeira seção de singletracks e o trecho que a liga à segunda seção, que era a mais técnica.

3ª Seção de Singletracks

Conseguimos transpor bem os obstáculos da segunda seção (o que não rolou durante o reconhecimento que fizemos pela manhã) e partimos para a 3ª seção. Nela, tivemos um pequeno desentendimento de ritmo, pois Helio atacou e entrou na roda de outra dupla, enquanto eu tentava controlar minha FC, que estava disparada. Resolvemos esse problema e entramos em Mucugê gerenciando o ritmo até o final.

Final do Prólogo: Helio de boa e eu bufando. kkkkkkkkk

Terminamos a etapa com um tempo na faixa de 1:40h. Acho um bom tempo, considerando que não queríamos forçar.

[ Stage 2 ]
A segunda etapa, também conhecida como a pior de todas é um caso à parte no Brasil Ride. Nesse dia, você sente a tensão no rosto de todos os atletas, pois são 147km com mais de 3.000m de desnível acumulado. Largamos às 6h com o clima perfeito: céu encoberto, temperatura amena e sem chuva. Encaixamos um ritmo confortável desde o início, nos mantendo entre os pelotões amadores intermediários.

Subida que não tem mais fim!

Por volta do 1º ponto de água, o tempo virou e tínhamos sol a pino com o céu sem nuvens. E foi quando a coisa começou a desandar.
Mesmo fazendo a reposição e a hidratação conforme indicação de nossa nutricionista, comecei a sentir câimbras nas duas pernas, tanto na parte anterior quanto na posterior. Isso quer dizer que não conseguia impor o ritmo sentado ou de pé. Helio ajudava nas subidas me empurrando (ainda bem que não fotografaram isso!), e no plano e descidas eu conseguia me virar.
No 2º ponto de apoio, em Piatã, larguei a bike na tenda da Shimano para regularem o câmbio dianteiro, e fui comer de tudo: banana, laranja, salgados, doces, sucos, coca-cola... Qualquer coisa que ajudasse na reposição.

Com coisa de 1km depois de Piatã, paramos para regular novamente o câmbio (quem anda de SRAM, tomem cuidado. Meu câmbio saiu pior do que entrou na tenda da Shimano!).
No singletrack entre Piatã e o 3º ponto de água, as câimbras voltaram mais fortes que antes, a ponto de ter que me sentar no chão, pois não conseguia mais ficar de pé. Ali eu já sabia que a etapa estaria perdida, por isso mandei Helio seguir e se divertir no Vietnã. Segui me arrastando até o 3º ponto de apoio, onde havia atletas o suficiente para enchermos uma van inteira com atletas que não conseguiram continuar.

Helio entrando no Vietnã

Cheguei a Rio de Contas por volta das 8h da noite. Do pessoal aqui de João Pessoa, só a dupla formada por Ítalo/Adroilzo (EQ Bike/Go Funcional Fight!) conseguiu terminar a etapa. Todo o resto do pessoal parou no PC-4, pós-Vietnã. Durante a conversa com os atletas, soube que o termômetro bateu na casa dos 52°C dentro do Vietnã, onde muita gente abandonou a prova. Um dos gringos da equipe oficial da Trek entrou em convulsão e teve que ser resgatado de helicóptero.

[ Stage 3 ]
O dia começou com o anúncio de que todos os atletas que abandonaram o dia anterior poderiam retornar à competição, com um acréscimo de 5 horas no tempo geral.

Subida muito louca da Capelinha!

A 3ª etapa é a mais divertida de todas as 7. É um circuito XCO de 6.9km, onde os atletas devem dar 5 voltas. Porém, os atletas podem completar apenas 1 volta, tomando penalidade de tempo de 1h a cada volta que tomassem do líder. Pelo desgaste do dia anterior, muita gente optou por dar apenas 1 ou 2 voltas.

E a descida mais ainda!

A descida da igreja é tensa! Muito pior do que o que se vê em vídeos ou imagens. Ou a pessoa chega confiante de que vai descer, ou vai pra o chão. Foi muito divertido ver os profissionais passando pelos degraus da capelinha como se fosse plano. Os caras realmente são fora de série!

[ Stage 4 ]
A 4ª etapa foi a minha última no Brasil Ride. Estávamos em um bom ritmo, com muita gente ficando pra trás, e por volta do KM-17, tomei um tombo em uma descida simples. A bike escorregou no cascalho e eu caí em cima de uma pedra.
Poucos minutos depois, a ambulância da organização chegou para prestar o atendimento necessário. Inicialmente, sentia dores apenas no cotovelo. O socorrista que me atendeu falou que eu podia ter atingido um nervo e que por isso estava sem forças na mão. Pedi para continuar e ele enfaixou meu cotovelo.

Serra das Almas. Rio de Contas lá embaixo!

Alguns quilômetros depois, comecei a sentir pontadas na região do punho e avisei a Helio que ia seguir até o PC-1 para fazer um novo atendimento médico. Lá, foi levantada a possibilidade de fratura, pois eu não tinha força alguma na mão. Sequer conseguia fazer a troca de marchas entre as coroas.
Eu sabia que a brincadeira acabaria pra mim naquele dia, mas optei por continuar na prova até o PC-2, para poder aproveitar a competição até onde fosse possível.
Subimos a Serra das Almas em um ritmo muito bom. Na verdade, o melhor ritmo que impomos durante toda a prova. Não sei se era o condicionamento que finalmente tava pegando no tranco, ou se era raiva pela queda e por saber que a brincadeira acabaria ali. O que importa é que mesmo com dores, ainda conseguíamos passar algumas duplas no meio do caminho.

Preparando pra entrar no Kamikaze Trail

Já a descida através do Kamikaze Trail foi muito sofrida. Ela é um singletrack muito louco dentro de uma floresta, com aproximadamente 15km. Cada vibração que a bike tinha ao passar por degraus ou pedras, subia pela bike e batia no punho, me dando aquela sensação de arrependimento por ter optado por fazer a descida. kkkkkkkkkk
Ao chegar a Rio de Contas (já à noite), fui encaminhado ao hospital, onde foi confirmada, não só a fratura no punho, como também o meu abandono.

Desse dia em diante, passei a ser espectador, torcedor e devorador compulsivo de sorvete, vendo o povão chegar em estados que davam pena.
O Raul (Terra de Santa Cruz) trincou o quadro de sua bicicleta. E como ele tem quase a mesma altura que eu, cedi minha bike pra ele poder continuar na prova.

Existem os atletas brutos. E tem a Gabi, que põe eles no chinelo.

No 6º dia, a Gabi (que correu com o Raul) tomou um capote que abriu a testa. Na brutalidade, ela escondeu a ferida, pegou a bike, passou direto pela ambulância e concluiu a etapa. Também nesse dia, Helio (que já estava correndo solo, pela farra mesmo) atacou como se não houvesse amanhã, e logo depois da chegada, desmaiou ao lado da tenda de alimentação (ele não assume, mas todo mundo sabe que isso é verdade! kkkkkkkkkk) e teve que tomar soro/glicose na veia.


Fizemos grandes amigos lá no Brasil Ride:
- Daniel (SP), que nos encontrou largados ainda no aeroporto de Salvador, e nos passou todos os conselhos necessários para a prova "Vocês vieram aqui pra se fuder. Mais nada". E isso foi fato!
- Carlo (SP), que fechou uma amizade com toda a galera lá, e me aprontou algumas com o Locutor Maquininha.
- "Tio" Alan e Kelvey, que são dois cearenses arretados e não deixavam o clima baixar em momento algum!

Raul, Gabi, Tio e Kelvey: FINISHERS!

Infelizmente não foi possível pegarmos a camisa de Finisher (que esse ano tava feia pra caralho de doer), mas isso é o de menos. Mesmo desistindo no 4º dia, a experiência de correr uma ultramaratona foi fantástica.
É um estilo de competição que eu recomendo aos meus melhores amigos, e aos meus piores inimigos. Dia após dia você vai redescobrindo seus limites, mudando toda a sua noção do que é insuportável. Como diz o slogan da prova, é mais que uma competição. É um estágio em sua vida.


Agradecemos imensamente às empresas que nos apoiaram nesse projeto:
- James Laurence
- Brisas de Coqueirinho Country Club Resort
- BikeTech Pepe

3 comentários:

  1. Grandes Helio e João, vocês são demais! Agradeço pela consideração e incentivo. Um brilhante relato. Paaaraaabéééns!!! Que bacana! Que demais!

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    Respostas
    1. Grande Maquininha!
      Você é show, cara! Além de toda a "sofrência" e diversão da prova, uma das coisas que me marcou lá foi você, que não deixava a bola baixar em momento algum. Nem mesmo quando terminava todo mundo destruído.
      Se der tudo certo pra correr o WarmUp esse ano, quero terminar a prova escutando você lá! \o/

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  2. NOSSA... Agora dá pra ter uma idéia da insanidade da parada!
    Coisa de doido.
    Mas, deve valer a diversão!
    MASSA!!!! :-)

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